2
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou. – Pág. 31
Estou fazendo um esforço imenso para não transcrever o livro inteiro por meio de citações. Sim, um dos meus livros favoritos de todos é um clássico presente nas listas de vestibulares. Sim, eu me apaixonei por Macabéa. E sim, vou contar do meu amor por esse livro para vocês no “Lido de Relido” de hoje.

Conheci a história dessa nordestina meio sem querer, ouvi falar da história por uma professora de português e acabei comprando em um sebo quando encontrei. Bom, acho que não há duvida pra ninguém que Clarice é uma escritora incrível, mas no meu caso a leitura me surpreendeu. Não achei que seria capaz se me envolver tanto com os personagens e o próprio narrador.
É claro que, como todo escritor, tenho a tentação de usar termos suculentos: conheço adjetivos esplendorosos, carnudos substantivos e verbos tão esguios que atravessam agudos o ar em vias de ação, já que a palavra é ação, concordais? […] Tenho então que falar simples para captar a sua delicada e vaga existência; Limito-me a humildemente – mas sem fazer estardalhaço de minha humildade que já não seria humildade – limito-me a contar as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela. – Pág. 35
Macabéa é uma nordestina que se mudou para São Paulo para morar com sua tia depois da morte dos seus pais. Não é um grande enredo, e o narrador faz questão de nos falar isso e justificar sua escolha de personagens. A protagonista também não tem nada de extraordinário, é “Só mais uma Macabéa”, como o próprio narrador gosta de nos lembrar.
É difícil pra mim conseguir explicar tudo que esse livro representa, é mais do que a história da sertaneja que tenta a sorte no centro-sul, é mais do que um tipo de denúncia. Tudo no livro tem significado e vamos junto com o narrador refletindo e ponderando sobre tudo.
Perceberam que eu sempre falo do narrador mas não menciono a Clarice? Bom, nesse livro a própria autora assume o personagem de um escritor e é esse personagem que conhecemos durante o livro, em momento nenhum a escritora é citada, já que esse livro está sendo escrito pela perspectiva desse homem que conhecemos já nas primeiras páginas.
Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo a toa. Se tivesse a tolice de se perguntar ‘quem sou eu?’ cairia estatelada e em cheio no chão. É que ‘quem sou eu?’ provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto. – Pág. 36
Como acho que já mencionei, Macabéa não é um grande personagem se formos pensar em sua personalidade ou ações, mas o narrador, aka Clarice, faz com que tudo na personagem seja bonito pois expressa significado. Macabéa nunca quis nada pra si, Macabéa gostava de ouvir rádio, Macabéa colecionava anúncios… Mesmo sendo um indivíduo tão “comum” é impossível não se apegar a ela junto com o narrador.
Porque escrevo sobre uma jovem que nem pobreza enfeitada tem? Talvez porque nela haja um recolhimento e também porque na pobreza de corpo de espírito eu toco na santidade, eu que quero sentir o sopro do meu além, pois sou tão pouco eu. – Pág. 41
Esse livro me trás muita reflexão toda vez que leio, sempre tenho algo novo para pensar ou uma frase nova para guardar, então a minha dica pra todos é: leiam. Não se deixem assustar pelo fato de ser um clássico, deem uma chance pra Macabéa porque ela merece.

0 Comentários